Num relacionamento, sentir-se desconfortável sem uma razão aparente pode ser um sinal de manipulação subtil conhecida como gaslighting.
O termo "gaslighting" surgiu do filme "Gaslight" de 1944, onde um marido manipula a sua esposa para que ela pense que está a perder a sanidade. Em psicologia, refere-se a uma forma de manipulação e abuso emocional onde o abusador distorce a realidade, levando a vítima a questionar a sua memória e percepção dos acontecimentos.
Não é incomum que a vítima sinta que a informação que recebe é contraditória, e que exista até uma primeira fase de "lua de mel", onde se sente amada, desejada e valorizada. Infelizmente, essa fase não dura muito, e de forma sub-reptícia, começam a surgir orientações ao seu comportamento. Estas orientações, por serem comunicadas de forma indireta, podem passar despercebidas, levando a vítima a adaptar-se ao que percebe como os desejos da outra pessoa, mas sem poder dizer que o manipulador pediu diretamente para que agisse de determinada maneira.
Para além disso, há também uma forte desqualificação da vitima. Os manipuladores utilizam frases como "Estás a ser sensível", "Estava só a brincar" ou "Estou a fazer o melhor para ti". Estes comentários parecem inofensivos, mas minam a autoconfiança e a independência da vítima.
Exemplos Comuns de Gaslighting:
Roupa e Aparência:
"Não saias com essa roupa, os outros não te vão levar a sério."
"Não achas que estás a usar maquilhagem a mais? Parece que estás a tentar chamar a atenção."
"Vais sair assim? Parece que não te esforçaste nada."
Amizades:
"Porque falas tanto com o teu amigo? Parece que estás a esconder algo."
"Acho que esse amigo não é assim tão teu amigo, ele só te usa."
"Passas mais tempo com os teus amigos do que comigo. Isso não é normal."
Memória:
"Lembras-te mesmo daquele dia? Estás a imaginar coisas, ou muito confusa."
"Já te disse isso antes, mas tu nunca prestas atenção."
"Estás sempre a esquecer-te das coisas. Tens a certeza que não estás com algum problema?"
Capacidades:
"Não sabes do que estás a falar, deixa-me tratar disso."
"És tão desorganizada. Não consegues fazer nada direito."
"Para quê tentar? Sabes que não és boa nisso."
Culpa Constante:
"Tudo é culpa tua. Se não tivesses feito isso, não estaríamos nesta situação."
"Se realmente te importasses comigo, terias feito isso de outra forma."
"A culpa é tua por eu ter reagido assim. Se não tivesses dito aquilo, eu não teria perdido a cabeça."
"Se fosses uma parceira melhor, não precisaríamos ter esta conversa."
Claro que este tipo de relação leva a um desconforto constante, uma vez que a vítima sente-se perpetuamente ansiosa e confusa. Para além disso, a desqualificação constante leva a que a vitima duvide sobre si própria, não consiga confiar nas suas próprias percepções e julgamentos, e se sinta constantemente responsável pelos problemas no relacionamento. É ainda comum o manipulador afastar a vítima dos seus amigos e familiares, o que faz com que a vitima se sinta isolada, e sem confirmação externa de que o que sente é válido. Sem essas pessoas por perto, a vítima perde a possibilidade de questionar o que está a viver e obter apoio para reconhecer a manipulação.
Como Proteger-se do Gaslighting?
Confie nos Seus Sentimentos: Se algo não parece certo, provavelmente não está. Ouça o seu instinto.
Documente Incidentes: Manter um diário pode ajudar a manter a clareza sobre eventos e sentimentos. Registe o que foi dito e feito, e como se sentiu em resposta.
Procure Apoio: Falar com amigos, familiares ou um psicólogo pode fornecer uma perspectiva externa e validação das suas experiências.
Eduque-se: Ler sobre gaslighting pode ajudar a reconhecer sinais cedo e a entender que não está sozinho.
Estabeleça Limites: Seja claro sobre o que é e não é aceitável. Se o comportamento abusivo continuar, considere afastar-se do relacionamento.
Fortaleça a Sua Autoestima: Participe em atividades que aumentem a confiança e a independência emocional.
Pelas características de manipulação e desqualificação existentes no gaslighting, é normal que uma vítima tenha dificuldade em reconhecer que está a ser manipulada. A verdade é que sofre microagressões constantes à sua autoestima e ao seu sentimento de competência, o que dificulta muito distinguir entre um relacionamento saudável, com alguns comportamentos mais tóxicos que precisam de limites claros, e um parceiro manipulador.
O acompanhamento psicológico é o sítio certo e seguro para refletir e explorar o que sente.
Frequentemente ouvimos que a rotina é o fim do romance. Mas será mesmo?
A verdade é que a rotina é uma parte essencial das nossas vidas. Não conseguimos, nem devemos, viver numa constante busca por novidades e excitação. Isso seria insustentável e até esgotante para a maioria de nós.
Nos relacionamentos de longo prazo, a rotina pode ser vista como uma base estável que nos proporciona segurança e conforto. É dentro dessa estrutura que podemos construir um amor duradouro e significativo. A rotina não precisa ser aborrecida se a encararmos com a atitude certa.
Pequenos gestos diários, como um beijo de bom dia, uma mensagem carinhosa durante o dia, ou mesmo a partilha das tarefas domésticas, podem fortalecer o vínculo entre o casal. Estes momentos são oportunidades para demonstrar cuidado e afeto, e podem transformar a rotina em algo positivo e enriquecedor.
Além disso, a rotina não impede a inovação. Podemos e devemos introduzir novidades de vez em quando, seja um jantar fora, uma viagem surpresa, ou simplesmente uma nova atividade juntos. Estes momentos especiais ganham ainda mais significado quando inseridos num contexto de estabilidade e confiança.
A rotina só se torna um problema se nos deixarmos cair na monotonia e na falta de comunicação. Por isso, é fundamental manter o diálogo aberto e estar atento às necessidades do outro.
A rotina, quando bem gerida, pode ser uma aliada e não uma inimiga. Aceitar que faz parte da vida e aprender a tirar partido dela pode ser a chave para um relacionamento saudável e feliz.
O ciúme é uma emoção humana natural e, até certo ponto, todos já a sentimos. Mas será que é uma demonstração de amor ou uma doença?
Primeiro, é importante reconhecer que todas as nossas emoções são válidas, incluindo o ciúme. Sentir ciúme não nos torna pessoas más ou inadequadas. No entanto, é crucial diferenciar entre a emoção do ciúme e os comportamentos que dela resultam.
Sentir ciúme pode ser um sinal de que valorizamos o nosso relacionamento e não queremos perder a pessoa amada. No entanto, agir impulsivamente com base nessa emoção pode levar a comportamentos prejudiciais, como insultar, controlar ou desrespeitar o outro. É aqui que a linha entre uma emoção saudável e um comportamento tóxico é traçada.
Para lidar com o ciúme de forma saudável, é importante primeiro reconhecer e aceitar a emoção. Pergunte a si mesmo: por que estou a sentir ciúme? Existe alguma insegurança ou medo subjacente? Compreender a raiz do ciúme pode ajudar a abordá-lo de maneira mais racional e menos reativa.
A comunicação aberta e honesta com o parceiro é essencial. Partilhe os seus sentimentos sem acusações ou ataques. Diga como se sente e porquê, e ouça a perspetiva do outro. Esta troca pode fortalecer a confiança e a compreensão mútua.
Lembre-se, o ciúme é uma emoção, e como qualquer emoção, não deve ser reprimido nem exagerado. A chave está em gerir essa emoção de forma saudável e construtiva, sem permitir que ela se transforme em comportamentos destrutivos.
Portanto, o ciúme não é necessariamente uma demonstração de amor nem uma doença. É uma emoção humana que, quando bem compreendida e gerida, pode ser um ponto de partida para um crescimento pessoal e relacional. Afinal, amar é também aprender a lidar com as nossas próprias emoções e as do outro.
E se eu lhe contasse que a ansiedade nem sempre serve para nos dificultar a vida?
️É verdade! A ansiedade é resultado da nossa evolução e tem um papel importantíssimo na sobrevivência. É uma emoção natural, que ocorre como resposta adaptativa à antecipação de uma ameaça, preparando o organismo para lidar com o ambiente.
Em resposta a uma situação percepcionada como perigosa, poderá ter reações emocionais, como medo, vergonha, nervosismo, inquietação, e reações físicas como falta de ar, palpitações, suores, tonturas, secura da boca, entre outras.
Estas reações devem então dar lugar a estratégias para lidar com a situação que as provocou.
A preocupação com o perigo leva as pessoas a correr menos riscos, procurar segurança e a concentrar-se em fazer as coisas bem.
Já alguma vez deve ter sentido ansiedade frente a situações em que precisou tomar uma decisão importante, ou na antecipação de uma avaliação, de uma entrevista de emprego, de uma apresentação no trabalho, de um encontro com uma pessoa que não conhecia tão bem.
A ansiedade poderá estimular-nos a agir, podendo aumentar as possibilidades de êxito perante a situação geradora de ansiedade, por exemplo fazendo-o estudar para um teste, preparar para uma entrevista, organizar-se com antecedência para cumprir prazos, etc.
Mas será sempre assim? A ansiedade tem uma função positiva quando tem uma causa aparente, é de curta duração, e não exige um esforço intenso para ser capaz de a controlar e superar.
Já parou para pensar como está a sua ansiedade hoje?
Se a sua ansiedade é permanente, toma conta de si, lhe causa muito sofrimento, bloqueando-o em vez de o preparar para agir sobre a sua vida, procure ajuda!
Como saber que está na hora de procurar um psicólogo?
Em primeiro lugar, é importante sublinhar que um psicólogo pode ajudar em qualquer situação, e sempre trará benefícios. Não há causas específicas para recorrer a este profissional, e todas as motivações serão válidas.
No entanto, deixo aqui exemplos de algumas das razões para marcar consulta:
Dificuldades em identificar, verbalizar, e/ou gerir as emoções e sentimentos que sente, como a culpa, a frustração, a raiva, a tristeza;
Dificuldades em se relacionar com os outros, seja um companheiro amoroso, um familiar, um colega de trabalho, um amigo;
Dificuldades em lidar com um diagnóstico de uma doença crónica/grave;
Dificuldades em lidar com grandes mudanças de vida, como mudar de trabalho/cidade, escolher a área profissional, decidir morar sozinho, ser mãe/pai;
Excesso de insegurança, que o faz sentir que não é merecedor daquela promoção, daquela relação, daquele elogio;
Dificuldade para superar uma perda, como o falecimento de um ente querido, o término de um relacionamento, a perda de um emprego;
Dificuldades em gerir a ansiedade e o stress resultante do trabalho/estudo.
Em algum momento da vida já toda a gente ouviu alguém afirmar que não vai ao psicólogo porque “isso é para doidos”, “eu não estou maluco!”, “eu consigo resolver isto sozinho”, “o que é que vou lá fazer?”, “não tenho nada para dizer!”.
Por isso, é tão importante esclarecer alguns preconceitos relacionados com a ida ao psicólogo:
1. O medo de que ir ao psicólogo é um atestado de incapacidade mental é uma das razões que impede a procura deste recurso. O primeiro passo é perceber que o psicólogo é para todos! O recurso à Psicologia poderá ir desde um desejo por desenvolvimento pessoal, até ao diagnóstico de uma perturbação mental.
2. Não é necessário preocupar-se com o que vai dizer, a consulta não exige um planeamento e nem restrições do que se deve e/ou pode ou não falar. O psicólogo é um profissional experiente e preparado para lidar com essa situação. Ele irá colocar uma série de questões de modo a conhecê-lo melhor e a perceber o que o levou a recorrer à psicologia.
3. O psicólogo é um profissional treinado para ouvir de forma imparcial e profissional, e para criar um espaço seguro e confidencial onde poderá falar sobre tudo o que poderia não ter coragem de contar a outra pessoa.
4. Podemos ser levados a acreditar que quem não consegue resolver os próprios problemas é frágil ou incapaz. Mas a verdade é que, em qualquer momento da nossa vida, todos podemos precisar de um profissional qualificado que nos possa orientar e/ou ajudar a esclarecer questões que não estamos a conseguir resolver sozinhos. O psicólogo não vai resolver os seus problemas por si nem vai dizer-lhe o que fazer. Ele vai orientá-lo nas questões que traz consigo, ajuda-lo a ganhar novas ferramentas, para que seja mais capaz de resolver os dilemas com que se tem deparado.
Sabia que as estimativas mais recentes na população portuguesa apontam para que cerca de 23% da população sofra de alguma perturbação do foro mental ou de uso de substâncias?
Os transtornos de Ansiedade surgem como o conjunto de perturbações mentais mais prevalentes em Portugal, logo seguidos pela Depressão. Apesar dos Transtornos de Ansiedade apresentarem uma prevalência muito significativa ao longo de todas as faixas etárias, a Depressão surge na qualidade de condição mais incapacitante e penalizadora no que remete aos anos de vida perdidos.
E com a Pandemia? O que aconteceu?
Com a elevada acessibilidade aos meios de comunicação e informação, os níveis de ansiedade dispararam. Mas não só! Vários estudos verificaram que também a Depressão aumentou.
E porquê?
Entre os fatores que apontam para este aumento encontra-se a eminência do desemprego, os desafios parentais de conciliar o cuidado dos filhos com as suas responsabilidades profissionais, além dos riscos associados aos profissionais de saúde e pessoas com vulnerabilidades psicológicas prévias.
Fontes: Boletim #7 - A saúde Mental em Portugal: Um breve Retrato Epidemiológico